quinta-feira, 24 de maio de 2012

O apóstolo da China

O livro de Atos dos Apóstolos menciona a trajetória de homens que se tornaram verdadeiros heróis da fé por anunciar o Evangelho em um mundo hostil à mensagem cristã. Gente como Pedro, Silas e, principalmente, Paulo sofreram na própria pele o preço de seguir a Jesus e fazê-lo conhecido: foram perseguidos, espancados, presos e alijados dos mais elementares direitos por sua opção de seguir o “Ide” do Mestre. Das páginas da Bíblia aos dias de hoje, quase tudo mudou, menos a disposição de alguns crentes em arriscar a própria vida em favor das almas sem salvação. Conhecido simplesmente como Irmão Yun, o chinês Liu Zhenying é um homem simples, de pouca instrução formal, para quem o conhecimento do Reino de Deus vem muito mais pela experiência prática do que dos bancos teológicos. Mas tem construído em plena pós-modernidade uma biografia daquelas que a própria Bíblia define como a de homens dos quais o mundo não é digno. Missionário por convicção, Yun dedicou a maior parte de sua vida à pregação do Evangelho aos seus compatriotas. Foi preso diversas vezes, submetido a trabalhos forçados, fome e maus tratos. Mesmo assim, nunca perdeu a disposição e a visão do Reino de Deus. Ele é o “Homem do Céu”. O apelido, que dá nome ao seu livro autobiográfico escrito em parceria com Paul Hattaway (lançado no Brasil pela Editora Betânia), surgiu depois de um dos muitos problemas que teve com as autoridades de seu país por insistir em fazer proselitismo cristão, o que, pelas leis comunistas que regem a China, é proibido. Líder da Igreja doméstica chinesa – que, ao contrário da Igreja oficial, monitorada pelo governo, luta para viver sua fé livremente (ver quadro com entrevista) –, ele certa vez recusou-se a dar aos policiais o seu verdadeiro nome e endereço, para não pôr em risco seus irmãos na fé. Simplesmente gritou: “Sou um homem do céu, meu lar é o céu!”, senha que, ouvida pelos outros crentes, permitiu que todos fugissem a tempo das casas vizinhas. Nascido em 1958, Yun veio ao mundo numa aldeia pobre da província de Henan, região central da República Popular da China. Era uma época de extrema repressão política no país, quando a Guarda Vermelha da Revolução Cultural espalhava o terror entre os considerados inimigos do regime. Como a Bíblia era um livro proibido e pregar o Evangelho, um crime contra o Estado, só mesmo uma evidente manifestação do poder de Deus poderia levar alguém a crer em Jesus. E ela aconteceu quando o pai de Yun, abatido por um câncer mortal, teve a saúde restabelecida, fato atribuído pela família a um milagre divino. A partir dali, a casa da família virou uma igreja doméstica, onde o nome de Jesus era pregado entre portas trancadas e janelas cerradas. Uma congregação sem bíblias, mas com extremo ardor missionário, nasceu.

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